1. |
Tudo o que não sabes
05:46
|
|
||
essa expressão que tu trazes vestida no rosto
de quem sempre teve pessoas a gosto
pra limpar o chão que pisas com desdém
parida da vida sem preocupações que levaste
sem consumições que te moam ou gastem
o esmalte que em teus dentes brilha tão bem
seguro nos trapos que te diferenciam dos outros
os loucos os que se entornaram na luta
diária labuta daqueles que não tem
desenhas no ar com palavras que não compreendes
falas do povo, da arte, das gentes
sem nunca teres dado a mão a ninguém
E de lá de cima do alto da sabedoria
que supões ser tua, cagas poesia
como se não devesses nada a ninguém
altivo nessa tua bolha de convencimento
que convence alguns mas que mostra o intento
de esconder a fraude que sabes bem ser
de barro, nos teus pés
estala o verniz lentamente
és o que és
um tigre que rosna sem dentes
e a paz que encontras
n'aceitação servil dos outros que te mantém
é parco almoço
pra um pobre monstro de papel que não se sustém
como eu te vejo
muitos outros
também conseguem ver
tudo o que não sabes
não te pode ofender
meu pobre tigre de papel que não sabe morder
tu vais morrer pela tua própria mão
sozinho caído no chão
arrefecer
e nessa bola de cuspo e gente fazedores de opinião
um sociopata demente reina sorridente de ceptro na mão
um camaleão sem rosto que a gosto faz a revolução
com panaceias no bolso, um profeta feito de papelão
|
||||
2. |
|
|||
assim
te escondes nesse teu querer
fugir de um mundo
que te aturde
e te encastra
em cinco mil caixas que arbitrariamente
alguém se lembrou dizer ser assim
e niguém ousou questionar
de arestas duras traçadas a giz
que roubam o espaço ao espaço
e impõe barreiras para o limitar
fechar
e roubar
nessa sala onde mais trinta como tu se sentam
cativos de quem
ordenar
toda a razão
igualar
como a mó que esmaga o grão sem nunca o encarar
e deita no mesmo saco tudo o que acreditar
em mais
do que esse manual permita ao espaço
aquele escrito pela rotina
e tais
divagações assim proíba
e da cartilha elimina
toda a réstia de uma luz que teima iluminar
o que em ti foi
singular
para na equação
te encaixar
como a mó que esmaga o grão sem nunca o encarar
e deita no mesmo saco tudo o que acreditar
em mais
|
||||
3. |
Sufoco
04:15
|
|
||
Sufoco.
Subtraem-te o ar.
Sonegam-te o descanso e o alento.
E te abraçam
com braços já sem cor
que roubam à saudade o seu conforto.
E mais
te afundam nesse mar sem fôlego
te rompem as ilhargas com brio.
“Tamanho tombo deu
na vida que a usura lhe roubou.”
E cais
no lodo que te envolve
e somes
num ai
sem ar
e sucumbes.
Sufocar.
Carregas em ti o peso de todas as opções que tomaste na vida
as boas as más as que de tão insignificantes serem já nem as recordas
carregas o peso de tudo o que amealhaste
e que julgas na embriaguez cega da posse serem teu tesouro mais desejado
carregas o peso da tua família, dos teus amigos, do teu país,
do seu desgoverno numa alocação de recursos de aritmética selvagem e desumana
da burocracia e da incompetência
do preço do petróleo, da água e da luz,
da renda da casa e dos impostos,
da estupidez das pessoas que cruzam o teu caminho e teimam em não sorrir,
que mudam de faixa sem fazer pisca e fazem a rotunda por fora,
da televisão que faz da informação jogo de propaganda e semeia a ignorância e a entorpecimento,
da pessoa que vive contigo e que não corresponde à imagem que construíste na tua cabeça,
da mentira proferida pelos outros e que te causou dano
mas sobretudo daquela que saiu dos teus lábios
e te mancha e te corrói por dentro e te faz igual a eles destruindo a demente ilusão de seres mais, melhor, de seres diferente e de poderes apontar o dedo.
Carregas o peso da ambição por cumprir e do desperdício das tuas capacidades
o peso dos sonhos que empilhaste numa pira funerária e de riscar o fósforo que a deflagrou
|
||||
4. |
Vendedor de fumo
05:49
|
|
||
com a certeza de quem trai o sonho
te enrolas fundo no engano
intrujar meio mundo e sussurrar
ah ah ah ah tu és só mais um que se arroga à arte
chamar criação sua, ser o seu estandarte
um idealismo kitsh o aparatchik vazio
de quem se dá a moda do declínio
ah ah ah ah tu és só mais um que se arroga à arte
chamar criação sua, ser o seu estandarte
e mais então
afila o dente
o negro cão
que rosna:
mísero cego que de ilusões te cobres
pobre de ti
que só de te ouvir
me espumam as beiças
e rasgo
a tua falsa pose
em mil e um pedaços
que envio pro espaço
e te encaminho
certo
percorrer o inferno
que é o de seres
vendedor de fumo
sem qualquer corpo
ou peso
que te encomende senso
resta-te
enquanto
tens tempo
a sorte
de poderes tentar
em ti próprio encontrar
ai
essa agrura
que a todos nós
faz aterrar
ai
e nos assenta
os pés no chão
e aclara o olhar
mísero cego que de ilusões te cobres
triste manto que tece a tua sorte
|
||||
5. |
Desfecho
03:13
|
|
||
que mais me queimasse na pele
escrevesse em carvão o meu pesar
mostrasse ao mundo o quanto o tempo ousou passar
e mais afirmasse embora em vão
de astucia e contenção
assim se armou
mas sem paz
que tens?
se é a recompensa que incita o teu andar
recorda a cruz que marca a meta e o parar
sem mais
aplauso ou conforto, sem mais
plateia para acarinhar
o teu ego, sem mais
que a morte é cega e fria e da vaidade, tende a ser má amante
e repousa na tua laje o mesmo pó, que varremos do chão
que varremos do chão
se o sorrir te aquecer o tempo que tens
que na certa te escapa e escasseia
então faz favor de amiúde substituir com ele o teu esgar
|
||||
6. |
Árvore da vida
02:37
|
|
||
pudera assim ver um dia em ti germinar
árvore da vida, tão imensa quanto o mundo abarcar
brotar nesse barro que a razão e Darwin quis moldar
semente do descontentamento que te obriga a avançar
cegueira certa
de quem não quer olhar
ver seu reflexo
sem questionar
|
||||
7. |
Sem fuga possível
04:03
|
|
||
que encontro em ti conforto
e é certo em mim
o vício do rito
que embala a vertigem da ausência
de norma
e da regra
que a tudo dá lugar
e me aconchega nessa fuga sem resfolegar
e me ata as mãos
e insiste em mim
o reforçar
do caminho
que repiso em nó
e lacra em si
o meu torpor
sem dó
que encontro em ti o alívio
e é certo em mim
o vício do adicto
que embala a delírio da falta
de norma
e da regra
que a tudo dá lugar
e me aconchega nessa luta sem resfolegar
e me ata as mãos
e insiste em mim
o reforçar
do caminho
que repiso em nó
e lacra em si
o meu torpor
sem dó
|
||||
8. |
Acto de contrição
04:35
|
|
||
ousaste então gritar
ao mundo
toda uma enorme contrição de embaraço
que nega o teu próprio existir
e excomunga o teu ser
numa abnegação sem remorso nem dor
mãe
aqui me confesso
como o vil bastardo que sou
sem
pedir teu indulto
que não mereço favor
e a ti me lanço aos pés
sem cura nem remissão
que do que me acusam eu sei
culpado ser sem perdão
não
eu não
mais irei
julgar outrem
pois eu
sou somente humano
e nesse momento quebrou
a amarra o aperto
que sufocava teu peito
e te impunha um credo não teu
de seres perfeito
e incapaz de colapso
não
eu não
julgar outrem
mais irei
eu não
|
||||
9. |
A onírica porta
05:05
|
|
||
que leve ao enfado e me deixe prostrado de tanto aborrecer
e flagele resoluta a minha hirsuta vontade
de te engasgar nesse fel
forçar a tua glote a ceder
e te emudecer
e ai de mim que encontre um pretexto igual
pra me entregar a essa angústia assaz banal
mais te enfardas nesse delírio senil
da forragem que tal psicose impingiu
e bate de leve a noção de fechares em ti
a onírica porta
perderes-te assim
na insana demanda
e ai de mim que encontre um pretexto igual
pra me entregar a essa angústia assaz banal
fecho essa porta
ao delírio sem volta
que é o teu
|
HANGING BY A NAME Coimbra, Portugal
HANGING BY A NAME is first and foremost the result of the collaboration of the three musicians that make up the band. Duarte Feliciano (Guitar and Vocals), Adílio Sousa (Bass Guitar) and Renato Costa (Drums) are a trio by choice, not by accident. A complex alternative power rock framework, that aggregates music with literature, visual arts giving birth to something new and full of individuality. ... more
Streaming and Download help
If you like HANGING BY A NAME, you may also like:
Bandcamp Daily your guide to the world of Bandcamp